Se você perdeu a degustação da primeira pílula, dê meia volta, saboreie-a sem pressa, e em seguida venha experenciar a pílula número dois.
Continuação da Carta do Amor para o Ódio…
Olha meu querido, nossa querida filha Compaixão vai além da simples simpatia ou pena. Ela envolve a disposição de agir de maneira solidária para melhorar a vida de todos ao seu redor, sempre que possível, especialmente os mais vulneráveis. E isso ela faz de diversas maneiras, desde prestar apoio emocional, ouvindo atentamente, ou até oferecendo ajuda prática, trazendo orientação e promovendo suporte aos necessitados. Sem esperar nada em troca.
Enquanto você age de forma incomplacente, com seus atos cruéis, um tanto quanto impulsivos, ela sempre vem atrás correndo, passando pelos lugares onde você causou destruição. Ela é simplesmente uma peça rara, de qualidade inigualável, valorizada em todas as tradições religiosas, crenças e filosofias, como um princípio ético fundamental. Enquanto você, bom, melhor nem me prolongar, porque você já sabe muito bem sobre sua imagem perante a sociedade. Mesmo eu sabendo que alguns o veneram, de forma a qual não compreendo, apenas procuro aceitar.
De toda maneira, sabendo que nossos destinos estão entrelaçados, eu gostaria de propor um desafio a você, Ódio: que possamos encontrar maneiras de nos entender, e até mesmo coexistir de maneira mais pacífica. Talvez, juntos, possamos ajudar a humanidade a encontrar um equilíbrio melhor entre nossas forças. Afinal, a meu ver, é a complexa interação entre nós dois que molda a natureza humana. Acredito que as consternações que você tem causado já estejam no limite, não acha? Já basta o que os próprios humanos andam fazendo contra eles mesmos, causando tamanha destruição, não é mesmo?
E veja que essa destruição não tem a ver nem comigo e nem com você, somos apenas meros coadjuvantes. Esse desmantelamento que esses pobres humanos vêm causando, e todo mal que vem provocando através de seus atos, não os culpo de toda forma. Posso afirmar que isso é influência também de nossa outra prima distante, a Ganância.
Todavia, sem que me prolongue mais do que o necessário, meu intento aqui é que esta carta possa ser o início de um possível diálogo entre nós, uma busca por entendimento, em vez de mais confrontos penosos. Estou disposto a ouvir suas perspectivas, e a encontrar maneiras de trabalharmos juntos para o bem-estar deles, desses frágeis, porém nobres em seu coração, lá no fundo de sua essência, os seres humanos.
Com tudo o que sou,
Amor